Pintor, desenhista, professor.
Manoel Colafante Caledônio de Assumpção Santiago mudou-se para Belém em 1903 e inicia estudos de pintura. Em 1919 transfere-se para o Rio de Janeiro, e cursa direito ao mesmo tempo que freqüenta a Escola Nacional de Belas Artes - Enba, onde é aluno de Rodolfo Chambelland e Baptista da Costa. Na época, assiste a aulas particulares de Eliseu Visconti. Casa-se em 1925 com a pintora Haydeá Santiago. Participa em 1927 do Salão Nacional de Belas Artes - SNBA e recebe o prêmio viagem ao exterior. Vai para Paris no ano seguinte, e lá permanece por cinco anos. De volta ao Rio de Janeiro, em 1932, torna-se professor do Instituto de Belas Artes. Em 1934, passa a lecionar pintura e desenho no Núcleo Bernardelli, figurando entre seus alunos José Pancetti, Edson Motta, Bustamante Sá, Ado Malagoli, Rescála e Milton Dacosta.
No inÃcio de sua carreira, Manoel Santiago pinta nus femininos e obras de temática ligada à s lendas indÃgenas da Amazônia, realizadas em uma paleta luminosa, inspirada nos impressionistas, com pinceladas livres. Sua obra revela afinidade com aquela de Haydeá Santiago, sua esposa, embora a produção desta possua um caráter mais intimista, com temas ligados a cenas de gênero.
Manoel Santiago representa a paisagem do Rio de Janeiro em inúmeras telas. O crÃtico Angyone Costa, em artigo de 1932, elogia sua obra, afirmando que a luz de certos dias enevoados da terra carioca não tivera melhor intérprete, com exceção de Eliseu Visconti.1 Em Alto Teresópolis, 1947 destaca-se o uso apurado da cor e uma luz que transfigura a paisagem, além do emprego de pinceladas espessas.
Algumas de suas telas evocam, em sua estrutura, a produção de Jean-Baptiste-Camille Corot, como em Pescador, déc.1960, na qual explora os efeitos de luz sobre a casca rugosa da árvore em primeiro plano. Já em obras posteriores o uso da cor torna-se mais livre, como nas paisagens litorâneas de Maranhão e ParaÃba, déc.1980.
Notas
1 Citado em MORAIS, Frederico. Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982, p. 79.
"Santiago, vigoroso temperamento de artista e definida personalidade. A paisagem, principal peça de sua contribuição, é uma obra de museu. Não estivesse Santiago no júri e seria uma injustiça não adquiri-la. Ele é, antes de tudo, um grande paisagista. De tal modo que trata a figura, em seus retratos, como se fosse paisagens. A figura humana, em seus pincéis, toma um caráter paisagÃstico, uma vez que, embora excelente desenhista, o desenho e a perspectiva aérea, assim como a linear, que dão sentido de amplidão, quase não existem. Seus retratos carecem de volume, são modulados por acordes tonais. Uma árvore, o mar ou uma face humana têm o mesmo tratamento, prevalecendo sempre o sentido poético e esfuziante do estilo em lugar do sentido psicológico, da interpretação Ãntima da personagem retratada, como costumam ser os verdadeiros retratos. A cor que domina literalmente este pintor faz o desenho explodir e a obra se tornar aberta, livre do desenho de contorno, como toda tela impressionista. Não é apenas a fixação do fugaz-eterno que define o quadro impressionista, nem suas pinceladas separadas, e sim, principalmente, a transcrição transformada da natureza em poesia colorida".
Alfredo Galvão
AQUINO, Flávio de. Manoel Santiago: vida, obra e crÃtica. Apresentação de J. Cabicieri. Rio de Janeiro: Cabicieri, 1986.
"Ao longo de sua extensa carreira, Manoel Santiago, o grande paisagista, também, por várias vezes, teve a figura como tema principal de seu quadro. O nu ou o retrato, a figura como tentativa de sondar o Ãntimo do modelo. Manoel Santiago enfrentou esse problema de duas maneiras diferentes. A primeira, tentando a fidelidade ao modelo; a segunda, procurando - e fez isso com sucesso -, curvando o modelo ao seu estilo fluido e impressionista. Em suas reproduções, como formas confluentes de ligar a expressão psÃquica da retratada à maneira fracionada, aproxima-se do fauvecubista. (...) As idéias teosóficas de Manoel Santiago são de interesse, porque explicam melhor a interação da obra com o pensamento do autor. Se ao ver uma figura, um objeto, um ser ou uma paisagem, ele os sente como forma, como imagens pictóricas; no entanto, seu temperamento, suas idéias atuam também como elemento primordial. ´O estilo é o homem´ (Flaubert). Mas não o homem em suas aparências e sim no seu sentido existencial mais profundo. E o estilo de Manoel Santiago é o do homem idealista, espiritualista e teosófico que era o pintor. Deste modo, quando ele diz que a ´vida é Una, as formas são múltiplas´ está, no fundo, proclamando que são múltiplas as interpretações da vida e do ambiente em que a vida existe, mas essa multiplicidade obedece à visão Una do artista. Seu objeto é, pois - como ele escreveu -, interpretar o ideal, fazer uma arte idealista, elevada espiritualmente com intuição e sensibilidade. Fala ainda - e com propriedade - que criação e matéria pictórica são inseparáveis".
Flávio de Aquino
AQUINO, Flávio de. Manoel Santiago: vida, obra e crÃtica. Apresentação de J. Cabicieri. Rio de Janeiro: Cabicieri, 1986.
1987 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Toulouse Galeria de Arte
1920 - Rio de Janeiro RJ - 27ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1921 - Rio de Janeiro RJ - 28ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1922 - Rio de Janeiro RJ - 29ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1923 - Rio de Janeiro RJ - 30ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1924 - Rio de Janeiro RJ - 31ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1925 - Rio de Janeiro RJ - 32ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1926 - Rio de Janeiro RJ - 33ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1927 - Rio de Janeiro RJ - 34ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - prêmio de Viagem ao Exterior
1927/1932 - Paris (França) - Salão dos Artistas Franceses, Salão de Outono, Salão Colonial dos Artistas Franceses, Salão das Tulherias e Salão de Inverno
1929 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes - medalha de ouro
1932 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão do Núcleo Bernardelli, na Sociedade Sul-Riograndense de Cultura
1933 - Rio de Janeiro RJ - 40ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1935 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão do Núcleo Bernardelli, na Enba
1936 - São Paulo SP - 4º Salão Paulista de Belas Artes - menção honrosa
1937 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Belas Artes - medalha de bronze
1939 - Porto Alegre RS - Salão de Belas Artes - medalha de honra
1940 - São Paulo SP - 7º Salão Paulista de Belas Artes, no Salão de Arte Almeida Júnior da Prefeitura Municipal de São Paulo - pequena medalha de prata
1941 - Santiago (Chile) - Exposição do IV Centenário da Cidade de Santiago - medalha de ouro
1942 - São Paulo SP - 8º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
1945 - São Paulo SP - 11º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia - grande medalha de prata
1948 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes - medalha de honra
1949 - São Paulo SP - 15º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon
1954 - Rio de Janeiro RJ - Salão Preto e Branco
1958 - Porto Alegre RS - Salão Panamericano de Arte
1961 - Rio de Janeiro RJ - O Rio na Pintura Brasileira, na Biblioteca Estadual da Guanabara
1965 - Rio de Janeiro RJ - Salão do IV Centenário do Rio de Janeiro - medalha de honra
1968 - Rio de Janeiro RJ - 17º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ
1970 - Curitiba PR - Mostra de Arte
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1982 - São Paulo SP - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40, na Acervo Galeria de Arte
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: sÃntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1989 - São Paulo SP - Trinta e Três Maneiras de Ver o Mundo, na Ranulpho Galeria de Arte
1990 - São Paulo SP - Frutas, Flores e Cores, na Ranulpho Galeria de Arte
1996 - Osasco SP - 4ª Mostra de Arte, no Centro Universitário Fieo
2003 - São Paulo SP - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no Instituto Tomie Ohtake
2004 - Rio de Janeiro RJ - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no MNBA